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Naquele dia...

  • Foto do escritor: Responsabilidade de Ser
    Responsabilidade de Ser
  • 15 de mar. de 2021
  • 2 min de leitura

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Naquele dia… tive vontade de enfiar um saco preto na cabeça e percorrer o meu caminho escondendo a minha vergonha! Aguardava eu por uma consulta que por motivo de greve acabou por não acontecer, desagradada com a situação, fui assaltada por uma enorme vontade de comer um doce, um chocolate em específico e em simultâneo, uma lista de argumentos válidos reforçavam o meu merecimento e necessidade… Caminhei algum tempo de forma a satisfazer o meu ímpeto, aproximava-me de um supermercado, e observei uma cena que despoletou em mim um misto de admiração, beleza mas simultaneamente, uma tristeza enorme. 1 Mãe e 2 filhos, 5 e 3 anos diria eu, sentados no chão, sujos e mal agasalhados, mas pareciam ter uma relação amorosa, de cumplicidade. Numa troca de carinho ali estavam, como se invisíveis fossem, numa sociedade apressada e distraída que teima em não ver o que faz doer. Eu vi! Eu segui, já dentro do supermercado iam surgindo pensamentos, reflexões sobre a minha motivação, direito e necessidade que me levaram até ali. Facilmente concluí, que podia comprar igualmente um doce aquelas 2 crianças, também elas, tal como eu, eram merecedoras. Ia comprar um doce para cada uma. Em simultâneo a minha consciência gritava, SHAME ON YOU! Já na caixa, envolta em pensamentos desconfortáveis onde culpa, vergonha, repulsa e frustração, cheguei à conclusão de que nunca precisei eu de um doce, mas aquelas crianças, no mínimo precisavam de um tecto, de roupa, de dignidade! E aquela Mãe, oh pobre Mãe, quanto sofrimento, deve ser estar naquele corpo, naquele coração! Saí, passei por eles, estendi a mão a cada menino e dei-lhes o que havia comprado e num misto de desconforto e vergonha estendi a mão com o troco e dei aquela pobre Mãe. Da minha boca não saiu uma palavra …NADA, segui caminho, as lágrimas apareceram no meu rosto, estava a chover e ainda bem, escorriam me lágrimas mas assim ninguém perceberia que eram as lágrimas da minha vergonha, ou seja, estava com vergonha de assumir a minha vergonha. Concluindo, num dia em que as noticias falam dos roubos da família “dos Santos” em Angola, em que foi declinada a destituição de Trump, em que na assembleia da republica os se teimam em apresentar “lados” numa sala redonda, em que no Mundo inteiro se teme o Coronavírus, tomo consciência que a verdadeira ameaça da humanidade está na falta de capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de agir onde de facto podemos fazer diferença e causar impacto na Vida de Alguém.


Teresa Serrenho

14/02/2020



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